Máquinas do tempo

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Quando eu era criança, meu grande sonho era voltar no tempo. Pensava em todas as coisas que faria diferente, as noites que passaria em claro, as diversões que teria. Desde cedo, já carregava comigo esse sentimento hediondo e pegajoso de que não havia aproveitado o bastante. Não havia vivido, amado e sorrido o suficiente.

Acho que, de uma ou outra maneira, todos nós temos esse sentimento. Ninguém morre achando que “viveu” o suficiente ou que aproveitou seus dias como deveria. Sempre há algo a mais que deveríamos ter feito ou palavras a mais que deveríamos ter dito.

Atualmente, meu maior desejo continua sendo voltar no tempo e refazer algumas coisas. Entretanto, com o passar dos anos, o objetivo de tal desejo mudou. Se me fosse dada hoje a oportunidade de voltar no tempo, eu a usaria quase que exclusivamente para pedir perdão.

Eu voltaria para cada uma das vezes em que machuquei alguém: desistiria de falar palavras afiadas, deixaria de trair a confiança de alguém, pediria desculpas quando oportunidades surgiram. Há quem diga que nunca é tarde para pedir desculpas; sou obrigada a discordar. Acho que remexer em velhas feridas, passados os anos, servem apenas para reviver certas dores. Há tantas pessoas que machuquei, tantas ocasiões em que minhas palavras, em vez de abraços, foram flechas. Os anos passaram, e hoje perdi contato com a maioria dessas pessoas. Não sinto que algo de bem sairia em forçar reencontros a fim de pedir, mais que tardiamente, perdão.

Hoje, minha cautela com as palavras é algo que reforço todos os dias. Por vezes, quando durmo, revivo os momentos em que deveria ter tido a prudência de me manter calada. Fico me perguntando se alguém, em algum lugar do mundo, sente isso em relação a mim. Talvez as pessoas queiram máquinas do tempo para alertar a elas mesmas, avisar sobre oportunidades perdidas e números de loteria. Entre milhões de reais e um pedido de desculpas, escolheria o segundo. Não há dinheiro que pague uma consciência tranquila.

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